Natureza: elixir da alma – e do pensamento
Calçadas cheias, vias abarrotadas de veículos. O caos do trânsito reverbera entre os prédios a perder de vista. A cada nova esquina, outdoors do tamanho de trens ocupam os olhos. A vista cansada clama por horizonte. A alma suplica um pouco de paz. Há anos que o ser humano se perdeu no meio urbano. Também há anos que busca no retorno à natureza um pouco de paz para seguir os dias. A busca da sintonia com a natureza como forma de equilíbrio, remonta a épocas anteriores a ciência. Na história, poetas e filósofos buscavam formas de explicar o que hoje a ciência já comprova: A natureza é sim o que de mais purificador – e nutritivo – há para a mente, o corpo e a alma.
David Strayer, psicólogo cognitivo e pesquisador da Universidade de Utah, apoiado por hipóteses próprias dos efeitos biológicos do exercício da contemplação, obteve, por meio de um aparelho portátil de eletroencefalografia, resultados clínicos de que a natureza tem papel fundamental na qualidade de vida. “No terceiro dia no mato, os meus sentidos passam por uma recalibração – e começo a sentir aromas e a ouvir sons que antes eu não era capaz de notar”, relata Strayer.
Desafiados a deixar a rotina e permanecer por três dias em contato com a natureza, um grupo de estudantes realizou uma série de testes de criatividade. O aumento significativo de 50% de acertos nos testes, quando comparados aos realizados dentro da universidade, não se deram por acaso. Segundo Strayer, o efeito dos três dias funciona como uma limpeza no para-brisa mental. Ao diminuir o ritmo de nossas atividades, entramos em um estado contemplativo, o que nos permite admirar a beleza ao nosso redor. Não só nos sentimos renovados, como também ocorre uma melhora em nosso desempenho mental.
Quando estamos focados em ações do dia a dia, o nosso cérebro utiliza o córtex pré-frontal ao que os pesquisador chamam de atenção prolongada. Ao estar em um ambiente natural, com a mente livre e o semblante leve, nosso cérebro reduz o ritmo, descansando este córtex. Este descanso funciona como uma pausa, agindo de maneira saudável ao pensamento.
Na Inglaterra, investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter executaram uma pesquisa relacionada a saúde mental de 10 mil moradores, na qual constataram que aqueles que viviam próximos a áreas verdes se queixavam menos de doenças mentais. Na Holanda, em 2009, uma equipe de pesquisadores contatou que moradores que viviam a menos de mil metros de áreas verdes, possuíam uma incidência menor de 15 doenças, entre elas depressão, diabetes, enxaqueca, asma e cardiopatias.
Caminhar no meio da mata proporciona ao nosso corpo uma queda de até 16% no hormônio do estresse. “As pessoas tendem a subestimar o efeito benéfico de passar um tempo com a natureza”, afirma a psicóloga canadense Lisa Nisbet. “Não consideramos isso como uma maneira de aumentar a satisfação. Nesse sentido, pensamos antes em outras coisas, como sair às compras ou assistir TV. Mas toda a nossa evolução ocorreu em condições naturais. É muito estranho estarmos agora tão desconectados.”
O caminho para uma qualidade de vida melhor, pode estar no simples colorir da selva de pedras em que vivemos. Desligue a TV. Vá menos ao shopping. Faça aquilo que transporte a sua alma para um lugar melhor. Contemplar a natureza tem um custo baixo. Baixíssimo. Não possui contraindicações, é benéfico para a saúde e requer de nós o mais simples: nos permitir.